30 julho 2007

Cinema: Babel e Antes da Chuva - De Holly a Bolly


Produções diferentes, públicos diferentes, obras similares, mensagens idênticas. Mais uma vez um rostinho bonito e famoso é a saída para sucesso de bilheteria. O que há de errado? Nada. A questão é: Por que belos e talentosos (leia-se "mulheres" também), em sua maioria, se dispõem a participar de obras de pouco conteúdo? A culpa não é minha se criaram um estereótipo porém, graças a boas exceções, é possível levar um pouco de "arte pensada" aos filmes Hollywoodianos. A tal Bollywood, o tal cinema "cult", finalmente dá o ar da graça num formato que conquista pelo convencional.

Ver uma celebridade competente estrelando já é metade do sucesso garantido. A outra metade é conquistar o povo pelo conteúdo seja ele apenas de entretenimento ou levando alguma mensagem, conceito. Eis o que venho a comparar.

Assisti Babel, com Brad Pitt, este fim de semana e muito me fez lembrar do filme Antes da Chuva, de Milcho Manchevsky. Até aqui já conseguimos distingüir como memorizamos o filminho Hollywoodiano e o Bolly... Enfim, ambos utilizam um formato e uma ordem cronológica semelhantes. Ambos abordam a questão do tempo, a intercultura, omprovando-nos que alguns segundos podem mudar completamente o rumo das nossas histórias. Cada momento é decisivo para traçar o destino que, apesar de não mudar, depende de fatos que marcam e alteram os caminhos que nos levam ao final. Um momento gera outro, e outro, formando um ciclo que não pára, assim como o tempo. O início de uma história dá sustentação ao final de outra e assim sucessivamente, indiciando desenvolvimento.

Em Antes da Chuva, de Milcho Manchevsky, o movimento se encontra em pequenos detalhes ao longo do filme como o círculo de fogo da tartaruga (que representa longevidade), as imagens sacras, as escrituras sobre as pedras, etc. Tudo ocorre em fração de segundos: achar a menina, uma bala que atinge alguém, uma morte. O filme evidencia o constante passar das horas, com efeitos e simbologias adequadas para gerar cansaço e êxtase no interpretante. Possui muitos elementos figurativos (diversos são bíblicos) e a mensagem predominante é a não-verbal. Há loucura de amor que é a base do filme, a premissa; embora muitos creiam que isto esteja apenas em segundo plano, mas quem morre no filme, sofre por amor.

E qual a semelhança deste filme considerado monótono, sem graça, cansativo e antiquado com Babel, com Brad Pitt? Toda!!! Foi por alguns segundos que alguém é atingido por uma bala perdida, que se perde um "salva-vidas" no deserto, que há loucura de amor adolescente, prova de amor conjugal, iniciação ao fogo do amor proibido e estranho,ao amor fraterno, ao tesão que é confundido com amor. Amor também é a base do filme! O tempo também não pára e interliga pessoas que sequer se lembram umas das outras, que revolucionam vidas por apenas passar rapidamente nas alheias.

Numa linguagem mais vendedora, com mais diálogo, mais cenas comuns aos olhos da massa populacional, foi possível levar para muita gente o que geralmente é considerado "cult demais para o povão" ou "pobre em conteúdo demais para o mundo cult".

Por isso acredito que é possível a disseminação do conteúdo mais profundo de forma amigável. Gerar interesse pelo "cult" não precisa ser de um dia para o outro e nem sofrido com 3 horas de filme medonho e escuro para declarar a depressão, por exemplo.
Achei fantástica esta integração e precisava compartilhar estas semelhanças e estimular o interesse pelas diferenças de filmes com o mesmo propósito.

A proposta dos filmes é que cruzamos a vida de milhares de pessoas o tempo todo e os filmes declaram essa interligação em seqüências das cenas, em que uma cena é continuidade da outra embora haja pessoas, locais e problemas diferentes.
Apesar dos mesmos locais e pessoas, as atitudem também mudam e, assim, muda-se toda a história de alguém. Cada um tem sua trajetória e a pessoas podem interferir nela, apesar de o destino não poder ser mudado.

Nossa vida é um ciclo, porém, não é perfeito. Ela pode ter o formato que for contanto que seja contínua e que, do início ou de uma resposta, obtenha-se um fim ligado, ou uma perfgunta, já que a vida não é uniforme e possui altos e baixos, saliências.

Ambos retratam a idéia de Chronos - cronologia, tempo - filho do Céu e da Terra. De acordo com a mitologia grega, o tempo está entre o Céu e a Terra e todos nós somos filhos do tempo. Morremos a cada minuto, pois o tempo nos come pouco a pouco (segundo a mitologia, para evitar a maldição do pai (que o odiava), Chronos come seus filhos que nascem a fim de protegê-los). Esta passagem é representada em Antes da Chuva com as imagens do Céu e Terra, chuva no Céu (o caos vem vindo, a vida antes da tempestade).

Pois é, De Holly a Bolly e vice-versa. Babel,(ressalto)com Brad Pitt e Antes da Chuva, de Micho Manchevsky. Não faz muita diferença na minha vida, mas seria interessante ver a Jessica Simpson passar algum conteúdo enigmático num filme de crítica à sociedade.

3 comentários:

Leo Correia disse...

Bom....

Fico me perguntando, por que entendemos que carma, destinho, interelacao entre as coisas, e outros conceitos sao melhor enntendido quando existe sofrimento e aflicao dos seres humanos

Acredito que essa seja a principal mensagem do filme. Babel explora com certa maestria o sofrimento do ser-humano para mostrar o quanto o universo e toda a vida é inexoravelmente interligada!
Do melhor estilo de "ensinamento budico", o filme mostra o quanto podemos interfirir na vida do proximo, as vezes desconhecido, pel a mais simples das nossas atitudes.

Fica um ponto para pensar. Será que o fato da bala perdida em si ao atingir a esposa de Brad Pitt nao pode ser uma resposta em relacao a seu possivel egoismo:
Ou melhor, o fato da Sra Mexicana ser deportada, mesmo tendo o mais puro e carinhoso sentimento em relacao as criancas que teve que cuidar, sera que ela merecia:
O que nao ficou muito claro, pelo menos para mim é, sera que o que ele quis passar eh que nos seres humanos só somos capazes de compreender os sentimentos por meio de alguma experiencia traumatica:
sera que esse culto a dor tem algum significado transcedental:
vendo o filme por essa otica, so me levanta mais novas duvidas...

Lud Figueiredo disse...

Bom, respondendo seu primeiro parágrafo, nós só evidenciamos o carma e o destino em momentos de sofrimento da mesma forma como rezamos e pedimos a Deus alguma coisa em momentos difíceis. Só erzamos ou nos damso conta de algo com sofrimento... só aprendemos de fato sem jamais esquecer, quando levamos alguma porrada na vida. Só crescemos na vida e vencemos se houver um desafio, um obstáculo. Enquanto tudo está bem, nos acomodamos ou nos fechamos num mundinho feliz sem se preocupar com o futuro ou com o ao redor. Isto é a hipocrisia humana. Podemos até aprender, crescer e vivenciar coisas boas, e seria o certo, mas para o que é bom, o ser humano em sua maioria não dá valor...só dá valor quando perde.

As interpretações do filme são diversas mas, com certeza, um trauma puxa nossa orelha para acordarmos para a vida.

JV disse...

Otima ideia. Achei bem original. Gostei do seu blog.