09 maio 2008

Nova estrutura populacional pode acelerar o crescimento econômico

O Brasil vive um bônus demográfico. Ou seja, o país está atualmente com a melhor estrutura etária e a combinação ideal de condições demográficas e sociais para tornar mais propício o crescimento econômico.

Levantamento do IBGE projeta para o período 2000-2030 um maior contingente de pessoas em idade economicamente ativa com o menor percentual de crianças e idosos no total da população. Como resultado, há um grau de dependência econômica menor de quem é capaz de gerar renda. "A menor dependência tem efeito macroeconômico, pois significa maior capacidade de poupança, condição indispensável para a elevação dos investimentos necessários ao desenvolvimento econômico", diz José Eustáquio Diniz Alves, professor da escola de pós-graduação do IBGE.

O levantamento mostra que a quantidade de filhos por mulher cairá para 1,9 de 2000 a 2030, sendo que a taxa de fecundidade mínima para reposição da população é de 2,1. De 1950 a 1980, para cada 100 pessoas em idade economicamente ativa havia uma média de 82 em faixa etária de dependência (crianças e idosos). Para o período de 2000 a 2030, a taxa de dependência deve diminuir para uma média de 48 pessoas. Isso ocorre pela taxa de mortalidade baixa e menor natalidade. Além de reduzir o grau de dependência dos que geram renda, a nova estrutura altera o perfil de consumo, aumentando a demanda.

Com um menor crescimento, a população iniciou um processo de envelhecimento. A idade mediana da população passou de 19 anos para 31 anos o que significa que entre 2000 a 2030 mais da metade da população brasileira terá acima de 31 anos. propiciando maior concentração de pessoas adultas e em idade em que a contribuição como mão-de-obra costuma ser mais qualificada.

Outras condições contribuem para o quadro de bônus, como a população mais urbanizada e a redução do analfabetismo.

Alves explica que o bônus demográfico traz benefícios para todos e não somente para quem estiver em idade economicamente ativa no período, com a tendência de maior disponibilidade de renda e investimento. As crianças e os idosos se beneficiam porque aumentam suas chances por melhor qualidade de vida e melhores condições de educação e saúde. Alves diz que alguns estudos indicam que o bônus demográfico já começou a ter efeitos e que pode ter sido responsável por 30% do crescimento econômico entre 1970 e 2000.

De qualquer forma, diz ele, o período de bônus não dura para sempre. Depois segue-se o envelhecimento populacional. "Exatamente por isso o período de bônus deve ser levado em consideração para a implementação de políticas públicas que promovam principalmente educação e investimentos", acredita o professor. "Essa janela de oportunidade de nada adianta se o país não for capaz de absorver a mão-de-obra disponível e incentivar a produção e a produtividade." Disso vai depender um período de envelhecimento populacional mais tranqüilo. "Em qualquer país, a transição demográfica só acontece uma vez e somente uma vez se pode usar o bônus demográfico."

O assunto foi discutido na palestra "As transições demográficas, as mudanças na estrutura etária e o bônus demográfico no Brasil" promovido pelo Instituto Fernand Braudel, em São Paulo.


Adaptado do Valor Econômico
Marta Watanabe
08/05/2008

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