Versão nacional do Idea, concurso de design dos EUA, premia 53
produtos, projeta brasileiros no exterior e traz à tona a discussão
sobre o papel do design na economia
O conceito de design é amplo. Não é artesanato nem arte. Muito menos algo no meio do caminho entre os dois. É conceber um produto ou um processo com preocupações não só estéticas, mas também funcionais e econômicas.
“O que chamou a atenção foi a quantidade de empresas interessadas em participar. Normalmente, os prêmios de design no Brasil despertam interesse só dos profissionais”, afirma Joice Joppert Leal, coordenadora da Objeto Brasil, entidade sem fins lucrativos para promoção do design e representante do prêmio americano no País.
Segundo ela, todos os vencedores concorreram automaticamente ao prêmio nos EUA. Lá, a entrega dos troféus está marcada para 18 de julho. Já se sabe que doze produtos brasileiros serão premiados na disputa mundial. O nome deles ainda é mantido em segredo.
“Os europeus enxergam o design brasileiro há muitos anos, mas nos últimos cinco anos os americanos e o resto do mundo começaram a olhar para a produção daqui com outros olhos”, diz Newton Gama, dono da N Gama Design e que por 26 anos esteve à frente da área de design da Whirlpool, multinacional americana dona da Brastemp.
Mais do que o reconhecimento individual de cada um desses profissionais, o Idea servirá como uma chancela ao design feito no Brasil, diz Lincoln Seragini, que participou do prêmio com duas criações - o Café Octávio, de São Paulo, cuja planta baixa tem o formato de um grão de café, e uma máquina de café de coador para a Universal, empresa de médio porte de Petrópolis (RJ) que estava perdendo bons clientes (padarias, principalmente) porque ainda vendia uma cafeteira antiquada.
Os brasileiros não são estreantes em prêmios internacionais de design. Na década de 70, uma dupla de designers gaúchos, Nelson Ivan Petzold e José Carlos Bornancini, colocou o desenho brasileiro no catálogo de vendas da loja do MoMa, o Museu de Arte Moderna de Nova York. O produto? Talheres de camping criados para a empresa Zivi-Hércules, hoje Mundial.
Outros grandes nomes cresceram com a evolução da indústria local, como Freddy Van Camp e Newton Gama na Cônsul, Oswaldo Mellone, que desenhou maçanetas para a Papaiz, e Angela Carvalho, “dona” do ventilador de teto da Singer. Mais recentemente, Guto Índio da Costa, outra referência no assunto, transformou um ventilador de teto, batizado de Spirit, em ícone do design contemporâneo.
A aproximação com o artesanato projetou nomes como o de Renato Imbroisi, que trabalhou com vários tecelões de diversos Estados do Brasil e de Moçambique, na África, Claudia Moreira Salles, que cria móveis sofisticados com detalhes em palha produzidos por artistas do Piauí, e Carla Tenembaum, que aproximou o artesanato das tecnologias de aproveitamento de resíduos industriais.
Ninguém duvida do potencial criativo do Brasil. Mas ainda há muito a ser feito nessa área. Ao mesmo tempo em que revela um tesouro escondido da maioria dos brasileiros, o prêmio Idea também traz à tona uma discussão importante sobre o papel do design na economia brasileira.
As empresas brasileiras, principalmente as exportadoras, têm uma demanda latente por design. Quando o Brasil começou a exportar de verdade, a partir de 2001, as empresas tinham um cenário razoavelmente confortável. Com o real desvalorizado, era possível ganhar mercado com preço baixo. Experiências mostraram que competir por preço com a China tornou-se praticamente inviável. Muitas empresas brasileiras quebraram no meio do caminho. Outras foram bem-sucedidas justamente porque apostaram em inovação, caso dos chinelos Havaianas e das sandálias Melissa, que levaram para o mundo um autêntico design brasileiro.
Fonte: O Estado de S.P.
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